François Roger Antonio Pinheiro vinha chamando a atenção da polícia e
da imprensa desde 2007. Naquela época, o então menino de 11 anos se
tornou famoso em todo o país como o menor infrator detido diversas vezes
por roubar e furtar carros em São Paulo. Até 2014, já com 17 anos,
possuía 20 passagens por delegacias e uma ficha policial maior que sua
altura. Agora, em 2016, com 19 anos, ele volta a ser notícia. Isso
porque, na sua terceira incursão criminal como adulto, em janeiro,
acabou morto a tiros pela Polícia Militar (PM).
O G1 teve conhecimento da morte de François neste
mês em meio à polêmica sobre a criança de 10 anos morta no último dia 2
numa suposta troca de tiros com policiais. Comparar esses dois casos é
inevitável: seus personagens começaram precocemente no crime e perderam
as vidas em supostos confrontos com policiais.
As investigações da Polícia Militar e da Polícia Civil concluíram que
os PMs agiram em legítima defesa no caso de François. Ao menos três
participaram da ação. A mãe dele, uma diarista de 47 anos, contesta. Em
entrevista ao G1, ela falou que os policiais
extorquiram seu filho e disse acreditar que ele foi executado pelos
agentes por causa de uma dívida de R$ 40 mil em dinheiro que tinha com
membros da Força Tática da PM.
Policial foi e matou ele algemado”, denunciou a mãe de François, que
só aceitou falar desde que seu nome e rosto não fossem mostrados. “Eu já
estava esperando por essa notícia. A própria polícia já tinha jurado
ele [de morte].”
Procurada pela equipe de reportagem, a Secretaria da Segurança
Pública (SSP) informou que a Corregedoria da PM apura somente a denúncia
de extorsão contra os policiais militares, já que as investigações
concluíram que eles não executaram François. Os PMs continuam
trabalhando.
“A Ouvidoria sempre cobrou da Corregedoria da PM uma investigação
desses policiais denunciados pela prática de extorsão contra esse
suspeito”, disse o ouvidor da Polícia, Julio Cesar Neves.
2015: denuncia de extorsão
Segundo a diarista, policiais ameaçavam matar François se ele não
pagasse a quantia exigida. Ela contou que o filho fez um acordo com os
agentes em 14 de julho de 2015, quando foi detido com um comparsa por
porte ilegal de arma, falta de habilitação e corrupção de menor.
Para não permanecer preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de
Diadema, no ABC, os PMs teriam proposto a François pagar R$ 14 mil,
segundo sua mãe. Em troca, eles iriam relatar que o filho dela teve uma
participação menor nos crimes. Mas, depois, eles subiram o valor.
Enquanto o seu comparsa continuou detido (ele foi condenado a três
anos e nove meses de reclusão em regime fechado, segundo os advogados
dele, os irmãos Lourivaldo e Dorgival Alves da Silva), François deixou a
prisão em 22 de agosto de 2015. Ele chegou a ser condenado a trabalhos
voluntários, mas a Justiça extinguiu a pena neste ano ao saber de sua
morte.
A mulher contou que seu filho “tinha que pagar para ficar em
liberdade”. “Ele falou assim: ‘mãe, eu estou devendo até o osso para a
polícia'”, lembrou a diarista. “O primeiro foi R$ 14 mil. Eu sei que na
segunda foi R$ 40 mil. Foi por causa desses R$ 40 mil que ele morreu.”
Procurada , a Defensoria Pública, que aparece num dos processos na
defesa de François, informou que “desconhece a denúncia feita pela mãe
dele”.
Fonte G1
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