Os grandes bancos estão preparando uma ofensiva para atrair os
trabalhadores que terão direito de sacar recursos de contas inativas do
FGTS, cuja liberação, a partir do próximo mês, vai irrigar a economia
com cerca de R$ 30 bilhões — valor que deve ser sacado do saldo total de
R$ 43,6 bilhões. O Santander foi o primeiro a anunciar uma linha de
antecipação de crédito a quem tem direito ao resgate dessas contas, mas
os concorrentes já armam estratégias para que ao menos parte dessa cifra
se converta em negócios em suas agências.
O presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, confirmou ontem
que a instituição já criou “ações específicas” para captar os recursos
das contas inativas do FGTS. Para ele, esses recursos trazem uma
expectativa adicional de melhora dos índices de inadimplência:
— Seremos bastante agressivos quanto a isso. Um volume de R$ 30
bilhões é significativo. O BB, com sua base de 63 milhões de clientes,
vai ter parte disso, seja para quitação de dívidas, seja para
investimento dos recursos. Já estamos preparados para abordar estes
clientes.
Como a decisão final sobre o uso dos recursos caberá a cada cliente,
Caffarelli observou que não há como estimar o impacto na redução da
inadimplência. Os atrasos acima de 90 dias do BB equivaliam a 3,29% da
carteira de crédito total do banco ao final de 2016.
— Há uma expectativa adicional de redução de inadimplência este ano,
com estes recursos. Mas como não temos controle sobre essa variável, não
é possível estimar de quanto será. Mas a expectativa é muito boa, de
redução de endividamento, afinal são R$ 30 bilhões girando no mercado —
disse o presidente do BB, admitindo a possibilidade de o banco criar uma
linha similar à da antecipação de restituição de Imposto de Renda ou de
13º salário.
A Associação Brasileira de Procons (ProconsBrasil) inicia hoje uma
campanha de alerta sobre a ilegalidade do bloqueio de recursos do FGTS
para pagamento de dívidas pelos bancos.
LIMITES PRÉ-APROVADOS
Ainda em janeiro, bem antes da divulgação do calendário de saques,
publicado terça-feira, o Santander anunciou que seus clientes com
depósitos liberados poderiam antecipar os recursos do FGTS. O valor
correspondente ao saldo do FGTS será liberado em até 24 horas na conta
corrente, depois de solicitado, e o pagamento se dará em uma única
parcela, na data em que o recurso do cliente no Fundo for liberado pelo
governo. Entre a antecipação dos recursos e a quitação do empréstimo, o
cliente pagará juros que vão variar de 2,59% a 4,59% ao mês. O banco
oferece também a possibilidade de liquidação antecipada do empréstimo,
com abatimento de juros.
— O Santander quer ajudar o cliente a ter um orçamento saudável e
também, caso queira, investir os recursos em um novo projeto no momento
em que a economia dá os primeiros sinais de retomada — disse o diretor
executivo de Pessoa Física do Santander, José Roberto Machado.
Essa linha, porém, só estará disponível para os correntistas que
disponham de limites pré-aprovados pelo banco. Não será obrigatório
apresentar garantias ou comprovações: o cliente informa o valor que tem a
receber, e o recurso será disponibilizado.
Outra instituição que já mira os recursos das contas inativas para
fazer negócios é a Caixa. O gerente regional da instituição no Rio,
Sergio Salles, informou que o banco oferecerá quitação de dívida com
desconto para quem tem saldo de conta inativa a sacar. No entanto, não
há um desconto padrão. Os valores dos abatimentos, explicou, serão
avaliados caso a caso.
Em estágio ainda de definição de detalhes, o Bradesco informou ontem
que vai lançar na próxima semana uma linha de crédito exclusiva para a
antecipação dos recursos das contas inativas do FGTS. Já o Itaú Unibanco
afirmou que não terá uma ação específica para o FGTS, uma vez que seus
clientes já dispõem de linhas de crédito pré-aprovadas.
Ricardo Figueiredo, consultor de educação financeira da Funcesp,
considera que fazer um empréstimo para antecipar os recursos das contas
inativas do FGTS só é válido caso o dinheiro seja usado para o pagamento
de dívidas. Ainda assim, o juro dessa dívida deve ser superior à taxa
da linha de antecipação oferecida pelo banco.
— Só é vantagem fazer um crédito de antecipação da conta inativa do
fundo se o destino do dinheiro for o pagamento de uma dívida com juro
maior, como o do cheque especial — disse.
Quem não tem dívida, sugere, deve aguardar a data do saque e só então
escolher uma aplicação. Tomar empréstimo para investir antes da
liberação do dinheiro do FGTS não é recomendado, já que nenhuma
aplicação considerada segura terá rendimento acima dos juros cobrados
pelos bancos. E se o objetivo é utilizar os recursos para consumir, o
ideal também é esperar até a data do saque, que se estende até julho.
— Há um desejo de antecipar o consumo. Ainda que seja tentadora a
expectativa de conseguir um bom desconto para o pagamento de um bem à
vista, o poder de negociação do consumidor está grande e não vai se
dissipar no curto prazo. Ele ainda vai existir até julho, data da última
liberação desses recursos — avaliou.
Estudo do departamento econômico do Santander mostra que o impacto
dos recursos do FGTS na economia são limitados, mas positivos no curto
prazo. Para o banco, o consumo das famílias pode ter um crescimento de
0,4% este ano e de 0,3% no próximo, provocando um crescimento adicional
do PIB de 0,25% em 2017 e de 0,15% em 2018. Em relação à redução do
endividamento das famílias e do nível da inadimplência, o impacto também
tende a ser “muito limitado”. Com informações do Extra.
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