Em 2015, a economia já havia recuado 3,8%. Essa sequência, de dois anos
seguidos de baixa, só foi verificada no Brasil nos anos de 1930 e 1931,
quando os recuos foram de 2,1% e 3,3%, respectivamente.
Como a retração nos anos de 2015 e 2016 superou a dos anos 30, essa é a
pior crise já registrada na economia brasileira. O IBGE e o Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) dispõem de dados sobre o PIB desde
1901. Pela primeira vez desde 1996, todos os setores da economia
registraram taxas negativas.
“Se a gente olhar o biênio, a retração foi de 7,2%. A gente nunca teve
um biênio com uma queda acumulada destas”, disse Rebeca de La Rocque
Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. A série histórica do
IBGE vai até 1948.
Queda generalizada
A crise foi generalizada e os três setores que entram no cálculo do PIB
recuaram no ano - agropecuária (-6,6%), indústria (-3,8%) e serviços
(-2,7%).
"Em 2014, a gente já tinha a indústria caindo, mas os serviços
continuavam crescendo. Em 2015, caíram a indústria e os serviços. Já em
2016, a agropecuária. Desde 1996, isso nunca ocorreu. A situação
peculiar desta vez é justamente essa queda generalizada”, afirmou.
De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais, a produção agrícola
sofreu por conta das condições climáticas, que afetaram a produção dos
principais produtos agrícolas do país. “Milho cana e soja pesam quase
60% no valor da produção da agricultura brasileira.”
No caso do resultado da indústria, a atividade extrativa, que reúne as
mineradoras, teve queda de 2,9%, ainda foi influenciada pela tragédia de
Mariana, segundo Rebeca. “É um setor que a gente viu que tem sido
bastante afetado por tudo que tem acontecido. Inclusive a parte fiscal é
muito importante. Como, obviamente, o governo tem segurado os gastos,
isso tem uma influência grande na construção. A parte pública é muito
importante na infraestrutura.”
Investimento e consumo menores
Os investimentos também pesaram contra o PIB. A chamada Formação Bruta
de Capital Fixo (FBCF), como o indicador de investimentos é conhecido,
teve uma retração pelo terceiro ano seguido e caiu 10,2% em 2016. De
acordo com o IBGE, esse resultado negativo pode ser explicado,
principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens
de capital.
Nesse cenário, a taxa de investimento no ano de 2016 caiu para 16,4% do
PIB, abaixo do observado no ano anterior (18,1%). Trata-se do menor
nível de investimento na economia já registrado pela série histórica do
IBGE, que começa em 1996.
O consumo das famílias, que por muitos anos sustentou o crescimento do
PIB do Brasil, também seguiu ladeira abaixo em 2016. Em 2016, as
famílias consumiram 4,2% a menos do que em 2015, acima da queda
registrada entre 2014 e 2015, de 3,9%.
Segundo o IBGE, a alta dos juros, a restrição ao crédito, o aumento do
desempenho e a queda da renda explicam esse resultado. Também recuou,
mas de forma menos intensa, a despesa do consumo do governo: 0,6% sobre
2015. De 2014 para 2015, a retração havia sido de 1,1%.
Seguindo o que já havia sido visto em 2015, com a valorização do dólar,
as exportações de bens e serviços cresceram 1,9%, e as importações de
bens e serviços caíram, 10,3%. "A gente teve uma contribuição positiva
do setor externo na economia, com o aumento das exportações de bens e
serviço.”
“Se a gente não tivesse nenhuma ligação com o setor externo, a gente
teria uma queda de 5,3% no PIB”, destacou Rebeca, enfatizando a
relevância de o país ter exportado mais do que importado no ano.]
Três últimos meses de 2016
No quarto trimestre do ano passado, o PIB caiu 0,9% em relação aos três
meses anteriores. Foi a oitava queda seguida nesse tipo de comparação.
Ao contrário do que ocorreu no consolidado do ano, no último trimestre
um setor conseguiu registrar resultado positivo - a agropecuária, que
cresceu 1%, influenciada pela agricultura. Já a indústria recuou 0,7%,
porque a indústria de transformação foi mal, e os serviços, 0,8%, que
não tiveram taxa positiva em nenhuma atividade.
“Olhando para o resultado do quarto trimestre, nós voltamos ao mesmo patamar do terceiro trimestre de 2010”, afirmou Rebeca.
Em relação ao quarto trimestre de 2015, a queda do PIB foi ainda mais
intensa. O recuo, de 2,5%, foi o 11º negativo seguido. Todos os setores
tiveram desempenho negativo: agropecuária (-5%), indústria (-2,4%) e
serviços (-2,4%).
A coordenadora do IBGE destacou que, comparando com os outros
trimestres de 2016, o ritmo de queda do PIB diminuiu. No primeiro
trimestre do ano, a queda foi de 5,8% em relação ao trimestre anterior.
“A gente viu que em outros períodos, algumas atividades econômicas davam
uma segurada na economia. Neste biênio, a gente viu que foi uma coisa
disseminada em todos os setores.”
Repercussão
Após a divulgação do PIB, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que o PIB de 2016 é "o espelho retrovisor", mas outros dados mostram que haverá crescimento no primeiro trimestre de 2017.
O titular da Fazenda destacou que, apesar da nova queda do PIB, o
Brasil está agora em processo de saída da crise e começa, "claramente", a
crescer.
Para Juan Jensen, professor de economia do Insper e Sócio da 4, o
resultado deixa a expectativa ruim para 2017. "Como caímos em todos os
trimestres em 2016, a gente parte de um nível deprimido de atividade
econômica, mesmo crescendo ao longo deste ano”, diz.
Para os próximos anos, a expectativa de alguns economistas é menos
pessimista. “O lado positivo dessa situação é que muitos erros estão
sendo corrigidos, como, por exemplo, a redução do endividamento das
empresas e das famílias, bem como o retorno do equilíbrio fiscal. Dessa
forma, a economia ganha fôlego em 2017 para retomar o crescimento de
forma mais consistente e, em maior intensidade, a partir de 2018”, disse
Alex Agostini.
Na esteira das medidas que deverão ser aprovadas e adotadas neste ano
pelo governo, o economista Jason Viera também prevê que o PIB deverá
crescer na ordem de 0,5%, “concentrado na segunda metade de 2017 e
avançando por 2018".
Previsões
A previsão do mercado financeiro era que o PIB encerraria o ano em
queda de 3,5%, de acordo com o último boletim Focus que trazia as
estimativas para 2016. A expectativa do Banco Central era ainda mais
pessimista. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado uma
espécie de "prévia do PIB", indicava que a economia brasileira havia recuado 4,34% no ano passado.
Fonte G1
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