Reconhecido internacionalmente por seu trabalho como ator, e
indicado recentemente ao Globo de Ouro pela interpretação de Pablo
Escobar na série Narcos, Wagner Moura decidiu rebater as acusações que
vem sofrendo de Michel Temer.
Moura foi acusado por Temer de receber
dinheiro do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) para fazer
campanha contra a reforma da Previdência.
"Um governo atacar com mentiras um artista, em propaganda
oficial, é, até onde sei, inédito na história, considerando inclusive o
período da ditadura militar", escreveu Moura em artigo nesta terça. "A
natureza da arte é política pura. Numa democracia saudável, artistas são
parte fundamental de qualquer debate. No Brasil de Michel Temer, são
considerados vagabundos, vendidos, hipócritas, desprezíveis ladrões da
Lei Rouanet", criticou.
Artistas são seres políticos. Pergunte aos gregos, a
Shakespeare, a Brecht, a Ibsen, a Shaw e companhia -todos lhe dirão para
não estranhar a participação de artistas na política.
A natureza da arte é política pura. Numa democracia
saudável, artistas são parte fundamental de qualquer debate. No Brasil
de Michel Temer, são considerados vagabundos, vendidos, hipócritas,
desprezíveis ladrões da Lei Rouanet.
Diante de tamanha estupidez, fico pensando: por que esses
caras têm tanto medo de artistas, a ponto de ainda precisarem
desqualificá-los dessa maneira?
Faz um tempo, dei muita risada ao ver uma dessas pessoas,
que se referia com agressividade a um texto meu, dizer que todo bom ator
é sempre burro, pois sendo muito consciente de si próprio ele não
conseguiria "entrar no personagem".
Talvez essa extraordinária tese se aplicasse bem a Ronald
Reagan, rematado canastrão e deus maior da direita "let's make it great
again". De minha parte, digo que algumas das pessoas mais brilhantes que
conheci são artistas.
Esse medo manifestado pelo status quo já fez com que, ao
longo da história, artistas fossem censurados, torturados e
assassinados. Os gulags de Stálin estavam cheios de artistas; o
macarthismo em Hollywood também destruiu a vida de muitos outros. A
galera incomoda.
Uma apresentadora de TV fez recentemente sua própria lista
de atores a serem proscritos. Usou uma frase atribuída a Kevin Spacey,
possivelmente dita no contexto de seu papel de presidente dos EUA na
série "House of Cards".
A frase era a seguinte: "a opinião de um artista não vale
merda nenhuma". Certo. Vale a opinião de quem mesmo? Invariavelmente
essas pessoas utilizam o chamado argumento "ad hominem" para
desqualificar os que discordam de suas opiniões.
É a clássica falácia sofista: eu não consigo destruir o que
você pensa, portanto tento destruir você pessoalmente. Um estratagema
ignóbil, mas muito eficaz, de fácil impacto retórico. Mais triste ainda
tem sido ver a criminalização da cultura e de seus mecanismos de
fomento, cruciais para o desenvolvimento do país.
Aliás, todos os projetos sérios de Brasil partiram de uma
perspectiva histórico-cultural, como os de Darcy Ribeiro, Caio Prado
Jr., Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre.
Ver o ministro da Cultura dando um ataque diante do discurso
de Raduan Nassar só faz pensar que há algo mesmo de podre no castelo do
conde Drácula. Mesmo acostumado a esse tipo de hostilidade, causou-me
espanto saber que o ataque, na semana passada, partiu de uma peça
publicitária oficial da Republica Federativa do Brasil.
Sempre estive em sintonia com a causa do MTST (Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto); fiz com eles um vídeo que tentava explicitar o
absurdo dessa proposta de reforma da Previdência.
O governo ficou incomodado e lançou outro vídeo, feito com
dinheiro público, no qual me chama de mentiroso e diz que eu fui
"contratado" -ou seja, que recebi dinheiro dos sem-teto brasileiros para
dar minha opinião.
O vídeo é tão sem noção que acabou suspenso,
assim como toda a campanha publicitária do governo em defesa da reforma
da Previdência, pela Justiça do Rio Grande do Sul.
Um governo atacar com mentiras um artista, em propaganda
oficial, é, até onde sei, inédito na história, considerando inclusive o
período da ditadura militar.
Mas o melhor é o seguinte: o vídeo do presidente não conseguiu desmontar nenhum dos pontos levantados pelo MTST.
O ex-senador José Aníbal (PSDB) escreveu artigo em que me
chama de fanfarrão e diz que a reforma só quer "combater privilégios".
Devo entender, então, que o senhor e demais políticos serão também
atingidos pela reforma e abrirão mão de seus muitos privilégios em prol
desse combate? E o fanfarrão ainda sou eu?
Se o governo enfrentasse a sonegação das empresas, as
isenções tributárias descabidas e não fosse vassalo dos credores da
dívida pública, poderíamos discutir melhor o que alardeiam como rombo da
Previdência.
Mas eles não querem discutir nada, nem mesmo as mudanças
demográficas, um debate válido. O governo quer é votar logo a reforma,
acalmar os credores, passar a conta para o trabalhador e partir para a
reforma trabalhista antes que o povo se dê conta.
Tenho uma má notícia: no último dia 15, havia mais de um
milhão de pessoas nas ruas do país. Parece que não é só dos artistas que
eles deverão ter medo.
Fonte Brasil 247
0 comentários:
Postar um comentário